No post anterior falei do inesquecível coelho com mostarda que comi no Le Procope, em Paris.
Tive, então, a ideia de listar mais alguns pratos inesquecíveis para mim, por terem sido maravilhosos ou desastrosos. Isso mesmo, lembrar dos desastres pode ser hilário ou oportunidade de revisitar um trauma (e rir dele agora que já passou!).
Em alguns casos o prato é inesquecível não por ele mesmo, mas pela experiência, pela companhia, pelo ambiente, pela aventura para chegar até ele.
Quiabo
Vou começar com um trauma de infância que já superei, mas ainda não como de jeito nenhum: quiabo. Quando eu tinha entre sete e nove anos, ficava sentada à mesa desde a hora do almoço até a hora em que minha mãe saía de casa para trabalhar. A política dela era: se não provar não pode dizer que não gosta. Faz sentido. Mas eu já tinha provado e detestava aquela baba que acompanha o quiabo. Resultado: uma criança com um prato de arroz, feijão, carne e quiabo na frente, gelado já, esperando a mãe sair para jogar aquilo no lixo e ser alimentada pela Babá com um salvador arroz com ovo. Hoje eu rio disso!
La Duchesse Anne, Fougères, França
Outro coelho com mostarda inesquecível, desta vez acompanhado de batatas fritas e torta quente de maçã como sobremesa. Em Fougères, na região da Bretanha, França. Mais rústico que o coelho parisiense, servido num pequeno restaurante familiar, La Duchesse Anne, numa praça com vista para o medieval Castelo de Fougères. Olha a vista:
Castelo de Fougères, 1998
Mais França (já disse que sou fã). A primeira vez que comi moules aux frites, ou mexilhões com batatas fritas, iguaria típica da Normandia. Foi no Au Gars Normand, na cidade de Honfleur, que fica na foz do rio Sena. Para acompanhar, a bebida também típica que não me agradou: cidra.
Moules aux frites
Au Gars Normand, Honfleur
Em Florianópolis tem excelentes moules aux frites, ao molho de vinho branco, no Restaurante Thai, na Lagoa da Conceição.
Além disso, é super fácil de fazer em casa e já fiz várias vezes, mas sem as batatas fritas.
Comi um divino roasted lamb (carneiroassado) num restaurante em frente ao Covent Garden, em Londres, mas não registrei o nome (falha nossa!).
Também na capital inglesa, mas na Harrods: no subsolo da badalada loja de departamentos existe uma área de alimentação. Almocei um excelente carneiro grelhado no balcão. O significado especial fica por conta da mágica que aquele ambiente de luxo exerce sobre os mortais.
Sabor de infância: Taberna Alpina, em Teresópolis, RJ. Todo fim de semana a família jantava lá a caminho do sítio. O kassler, costeleta de porco defumada, é para comer de joelhos. O nhoque é divino. Tudo lá é bom. Voltei várias vezes depois de adulta.
A primeira vez que experimentei codfish, ou o peixe utilizado para fazer bacalhau, mas no estado primitivo, fresco, foi em Bruges, na Bélgica. Tão gostoso e leve que comi duas noites seguidas.
Conhece o spätzle? É uma massa bem parecida com o nhoque, mas em tamanho menor e mais leve. Na verdade pedi o kassler (costeleta de porco) e o acompanhamento era o spätzle. Que bônus! Foi num pequeno restaurante familiar em Freudenstadt, na Alemanha, em plena Floresta Negra.
Spätzle
Que tal um salsichão branco num carrinho de rua, com uma mostarda super forte? Mais uma lembrança que nunca sairá de minha cabeça. Foi em pleno centro de Zurique, na Suíça, num momento de muita fome. Lá também foi a primeira vez que ouvi falar e comi alho poró. O dono do pequeno hotel onde ficamos era também o chefe de cozinha, o garçon, o recepcionista. Que figura! Nas paredes do minúsculo restaurante no térreo do hotel havia muitas fotos de personalidades ligadas ao futebol, inclusive Pelé (a sede da FIFA é em Zurique).
Tiramisù
Não posso esquecer a primeira vez que ouvi falar e comi um tiramisù, sobremesa de origem italiana cujo nome significa "puxa-me para cima". Nome bacana, né? Foi em Interlaken, na Suíça. Lá também foi a primeira vez que comi um hamburger vegetariano no McDonald's. Uma hora depois eu já estava morrendo de fome! Depois vou fazer um post só sobre esta linda cidade alpina. Teve até piquenique dentro do trem!
Outra lembrança negativa: um calzone recheado de pimentões de todas as cores! Em muitas cidades na Europa, principalmente as menores, há horários bem delimitados para o funcionamento dos restaurantes. Chegamos no meio da tarde a Delft, na Holanda. E famintos. O único lugar aberto era uma pizzaria na praça central da minúscula cidade conhecida pela produção de louça branca com desenhos azuis. Como não havia cardápio em inglês, pedimos no escuro e eramos feio. Resultado: passamos a noite tomando Coca-Cola para ajudar a corroer os indigestos pimentões.
Agora as delícias da família. Minha irmã faz um delicioso ensopado de lulas. Meu irmão é mestre no risoto com gorgonzola e pera. Na casa da minha tia não pode faltar o brigadeirão quando vou lá. Já na casa da sogra, fica difícil eleger um prato só. Então vou citar a sobremesa preferida: pudim flutuante, ou pudim de claras sobre um creme feito com açúcar queimado. Pena que não tenho foto, pois, além de gostoso, é lindo.
Estão vendo porque tenho que pedalar e correr muito, malhar bastante e tomar muita água? Sou fã das boas comidas e marco muitos lugares pelos seus sabores. Listei apenas os primeiros que me vieram à lembrança, mas há muitos mais. Portugal, por exemplo, merece um post só para lá, com tantas lembranças gostosas. Aguardem para breve.
Bom sábado e excelente fim de semana a todos!
AB
Por favor me perdoem os ufanistas brasileiros, mas sou admiradora da França e mais especificamente de Paris. Adoro o Brasil, que tem lugares maravilhosos. Tenho que confessar que conheço poucos deles. Mas sou uma pessoa urbana, gosto de cidade.
Em tempos de muitos novos viajadores, gostaria de dividir algumas experiências e estimular quem está pensando em ir pela primeira vez ao exterior.
Na minha lua-de-mel, em 1986, a viagem foi pelo sul do Brasil, transportados de ônibus pela finada Soletur (lembram?). Era onde o orçamento podia nos levar. E foi maravilhoso!
Dez anos depois, conseguimos juntar uns trocados (poucos, diga-se) e nos aventuramos a realizar um sonho comum ao casal: a primeira viagem internacional. A primeira cidade: Paris.
Nunca vou me esquecer da estranha sensação que tive ao sair do aeroporto de Orly, pegar um ônibus e saltar no meio de um movimentado bairro em busca do endereço do hotel: uma imensa vontade de pegar o primeiro avião de volta para casa. Medo mesmo, confesso! Muitos anos depois, meu marido disse que teve a mesma sensação mas, como eu, ficou calado.
Vencida a barreira inicial da dificuldade do idioma, começamos a aproveitar a viagem. Largamos as malas no minúsculo quarto do hotel Ibis Cambronne e fomos a pé para a Torre Eiffel. Primeiro desejo atingido com muita emoção! Veja a foto que tirei lá em cima da torre, com o Campo de Marte e a Torre Montparnasse ao fundo.
Paris, maio/1996
O café da manhã estava garantido no hotel (naquela época era incluído na diária). Como os recur$o$ eram poucos e controlados na ponta do lápis, era almoço ou jantar. A terceira refeição era só um pequeno lanche, geralmente uma baguette au fromage, ou, simplemeste pão com queijo. Não tenho nenhuma vergonha de dizer isto, pois alguns sacrifícios eram necessários para realizar nosso sonho de conhecer outros países. Às vezes o almoço era um sanduíche McDonald's. Lembro que passei em frente ao restaurante Le Procope e tive muita vontade de entrar, mas o cardápio na porta, embora não fosse dos mais caros, me alertou que aquela não era a hora certa. O restaurante é conhecido como o mais antigo da França, fundado em 1686. Fica no charmoso bairro Saint-Germain-des-Prés, onde também há vários outros cafés/restaurantes famosos. Quanta história e quanta gente interessante passaram por ali! E eu só na porta...
Fachada do Le Procope
Tínhamos apenas quatro dias por lá antes de seguirmos a viagem, que era do tipo cinco países em vinte e dois dias. Haja fôlego! A gente não sabia se ia poder voltar lá e tinha que extrair o máximo daqueles dias de férias. Ao todo percorremos 4.200 km de carro. Fora o que andamos a pé!
No segundo dia, andamos feito loucos pelos principais pontos turísticos, matéria obrigatória para viajantes de primeira viagem. Arco do Triunfo, Champs-Élysées, Jardim de Tuileries, Museu do Louvre (só por fora), Catedral de Notre Dame, Museu Les Invalides (onde está sepultado Napoleão Bonaparte), Jardim de Luxemburgo. Ô correria! À noite fomos ao passeio de Bateaux Mouche no Rio Sena. Pense num programa turístico que vale a pena! É linda Paris à noite!
Deixa eu contar um lance engraçado. Por insistência de meus sogros (e o devido aporte financeiro para tal insistência, ou seja, evento bancado por eles) naquela mesma noite tivemos que ir ao espetáculo do Lido, bem para turista ver. Quase dormi! Estava tão cansada da romaria diurna!
No terceiro dia, ávidos por acumular "lugares" no diário de bordo, fomos ao Palácio de Versailles. Não sei se voltarei lá um dia, mas é um passeio também obrigatório para estreantes internacionais. Tivemos sorte, pois naquele dia era a inauguração das fontes ao redor do palácio, que só funcionam na primavera e no verão. E o dia estava lindo, com bastante sol e frio.
Palácio de Versailles, maio/1996
Fontes do Palácio de Versailles, maio/1996
O quarto dia era para ver o que ainda não tinha dado tempo. E a gente acha que pode ver TUDO em quatro dias. Dali seguimos de carro para Strasbourg, na fronteira com a Alemanha. Falarei de lá em outro dia, tá? Sabe o Le Procope? A língua está aqui coçando para dizer! Fui lá na viagem seguinte, em maio/1998. Com direito a jantar com vinho e tudo mais! Comi um coelho com mostarda inesquecível, pelo sabor e pela experiência. E a sobremesa foi na Maison Berthillon, da qual já falei aqui. Fomos caminhando até lá e depois de volta ao hotel, tudo bem pertinho. Olha só a cara de satisfação (e já depois do vinho)!
Le Procope, maio/1998
Realizar sonhos é bom demais!!!! E quem não sonha, morre aos poucos, dizem os sábios...
Boa próxima viagem!
AB
Estas duas sugestões são bem diferentes uma da outra, mas ambas valem a pena. Os dois filmes estão disponíveis em DVD e também estão na programação dos canais por assinatura.
Em À francesa (Le divorce, 2002), Isabel Walker (Kate Hudson) é uma jovem americana que parte para a
França na intenção de visitar sua irmã, Roxeanne (Naomi Watts), que está
grávida e foi recentemente abandonada pelo marido (Melvil Poupaud). Ao
chegar, Isabel se apaixona por Edgard (Thierry Lhermitte), um diplomata
francês que é casado. Juntamente com a irmã,
Isabel passa então a conhecer os principais locais de Paris e frequentar
seus principais acontecimentos sociais.
Se o enredo não agradar muito ao seu gosto, as imagens de Paris são sempre deslumbrantes. Para quem gosta de objetos de moda, preste atenção à bolsa que Isabel ganha de presente do amante: uma Kelly da Hermès, que foi batizada assim em homenagem à princesa Grace Kelly, de Mônaco. Olha o trailer:
A outra dica é de filme de ação. Encurralados (Butterfly on a wheel, 2006) nos mostra Neil (Gerard Butler) e Abby Randall (Maria Bello) que formam um casal feliz,
que vive no subúrbio de Chicago. É o final de semana do aniversário de
Abby, mas Neil não pode estar presente já que neste mesmo período foi
convidado por seu chefe para ir a um chalé no campo. Como Neil sonha se
tornar sócio da companhia, aceita o convite. No dia de sua ida ele sai
de carro com Abby, para deixá-la na casa de uma amiga, mas
repentinamente descobre que há mais alguém no carro. Trata-se de Tom
Ryan (Pierce Brosnan), que sequestrou a filha do casal e começa a
chantageá-los. O final é surpreendente! Mas não se preocupe: não acontece nenhum mal à criança.
Olha o trailer:
Dá para notar que gosto muito de filmes? E que tenho gosto eclético?
AB
Assisti recentemente no programa Mundo S/A, veiculado no canal por assinatura GloboNews, uma reportagem sobre uma empresa no interior da França que produz lareiras de forma artesanal e com design incrível. Sei que na nossa cidade e na nossa região não dá nem para pensar em usar este objeto tão comum em lugares frios, mas as coisas bonitas devem ser devidamente apreciadas, mesmo que não possamos usá-las.
Por isso, segue abaixo o link para assitir ao vídeo da reportagem e algumas fotos das lareiras FOCUS, produzidas em Viols le Fort, pequena cidade francesa perto de Montpellier, sul do país. O idealizador e fundador da FOCUS, Dominique Imbert, recentemente recusou uma polpuda oferta de compra da empresa para não ver seus empregados serem demitidos. Bastante sonhador, mas coerente com ele mesmo, mais artista do que empresário. O preço de uma lareira pode ir de 1.500 a 15.000 euros, e o custo de instalação pode chegar a 2.000 euros, dependendo do modelo e do ambiente.
Karl Lagerfeld, estilista alemão da Maison Chanel, afirma no início do clipe: Saint-Tropez é o paraíso! Prestem atenção nas belas imagens da cidade, que fica no sul da França, na região conhecida como Côte d'Azur (Costa Azul). É tudo isso e mais alguma coisa!
Eu adoro música e, assim como para os filmes, tenho gosto eclético. Minha mãe tinha uma coleção enorme de LP (para os mais novos, LP é long play, aqueles discos de vinil com gravações em ambos lados). Na casa dela sempre tinha música tocando, ou na vitrola ou no rádio. Cresci escutando música brasileira e americana.
O American Songbook é o conjunto de canções cujos autores são considerados os melhores do Século XX. Uma música universal, atemporal, e que está no inconsciente coletivo. Essas obras foram tocadas nos anos 30, 40, 50, e até hoje são lembradas e ouvidas. Cole Porter e os irmãos George e Ira Gershwin são os mais conhecidos autores daquele período. As vozes de Tony Bennett, Frank Sinatra, Bing Crosby e Nat King Cole, só para citar alguns, imortalizaram algumas delas. Elvis Presley também gravou algumas delas mais no fim de sua brilhante carreira. Mais recentemente, Rod Stewart, Diana Krall, Michael Bublé e Steve Tyrrell fizeram muito sucesso com suas interpretações.
Achei este cantor brasileiro Ian Calamaro e suas gravações do American Songbook.
Esta outra música, My Way, não faz parte do American Songbook, por ser originalmente francesa, composta em 1967. No ano seguinte ganhou sua versão em inglês por Paul Anka e foi imortalizada por Frank Sinatra. A incluí aqui por ser uma das minhas favoritas.
Desculpem-me os marmanjos, mas hoje o assunto é bem feminino. Mas vocês homens podem anotar as dicas para comprar um presente. Ou opinar sobre o lado econômico do assunto, aspecto que abordo mais adiante.
Como vocês devem ter visto na imprensa, sexta passada foi inaugurado um
novo shopping em São Paulo, voltado para o mercado de luxo, oJK Iguatemi, ao lado da antiga Villa Daslu, às margens do Rio Pinheiros.
Nos próximos dias será aberta lá a primeira loja no Brasil da rede internacional Sephora, um
verdadeiro shopping de beleza que muitos já ouviram falar ou já
visitaram em suas viagens ao exterior. A empresa já vendia seus produtos no Brasil por meio virtual há algum tempo. Pois bem, a chegada da primeira loja física da Sephora é motivo de alegria para quem gosta do assunto. Infelizmente a
alegria não é completa por que as normas brasileiras de importação
oneram os preços dos produtos em pelo menos 100% (ou bem mais do
que isso em alguns casos). Vou citar como exemplo alguns produtos maravilhosos e seus
preços no exterior e aqui no Brasil. Os preços no exterior podem variar um pouco, de acordo com o país e a loja. Os preços no Brasil podem variar mais. Pesquisei no site da Sephora, mas há outras lojas que vendem alguns destes produtos.
Benetint, US$ 29.00, 32,00 euros, R$ 128,00
They're real!, US$ 22.00, 22,50 euros, R$ 78,00
Estes dois acima são fabricados pela Benefit, marca norte americana que a Sephora vende. O Benetint é um corante líquido vermelho que pode ser usado na face e nos lábios, dando ar saudável. Já a máscara para cílios They're real! promete efeito de cílios postiços e é best seller da marca. Ainda não usei estes produtos, mas já estão na minha wish list.
Os produtos acima são da Lancôme, que dispensa apresentação. A marca tem vários tipos de máscara para cílios, mas esta que escolhi e uso, promete o tratamento e fortalecimento dos cílios quando usada diariamente e não deixa aspecto pesado. O batom hidrata por muito tempo, mesmo quando a cor já foi embora. Normalmente uso cores neutras, quase cor de boca, mas é bom ter um vermelho escuro e um coral na gaveta.
Este pó com efeito bronzeador da Guerlain é o campeão absoluto nesta categoria. Cuidado com o excesso ou vai parecer que você colocou a cabeça dentro do forno antes de sair de casa. Bastam leves toques do pincel para dar um aspecto saudável ao rosto que a gente encheu de protetor solar.
Marvelous Mineral Mascara, US$ 16.50, R$ 76,00
A Kiehl's começou como uma pequena farmácia há 160 anos em Nova York, Estados Unidos. Isso dá moral à marca que afirma usar somente produtos naturais. Adoro a cor desta máscara, pois é black/brown, ou seja, um marron bem escuro, não muito fácil de encontrar em outras marcas e que fica mais natural para o uso diário.
Este produto da L'Oreal é super fácil de aplicar, dá um aspecto seco à pele e dura por muito tempo. Para minha pele oleosa é excelente. Pode ser usado sobre o protetor solar diário. Sempre lembrando: cuidado com o excesso ou o feitiço vira contra o feiticeiro e a maquiagem vai pesar.
Viram só como a diferença de preços é gritante? Não dá para entender. Ou dá: a velha mania de proteger a indústria nacional. O mercado de beleza movimenta alto volume de recursos e tem espaço para todo mundo e todo bolso. Só não acho justo onerar tanto as marcas internacionais. Há produtos nacionais de excelente qualidade e com preços bem acessíveis. Penso que dava para aliviar um pouco nos tributos e proporcionar a um maior número de pessoas a experiência de usar outras marcas e comparar os resultados. Só mesmo a livre concorrência para avaliar de verdade se um produto é bom ou não é.
Deixa eu contar uma historinha que vai explicar por que eu insisto tanto em dizer: cuidado com o exagero na aplicação dos produtos. Quando eu tinha 20 anos e fui trabalhar no Banco do Brasil, tive um chefe, muito espirituoso e bem mais velho, que dizia a mim e a uma colega da mesma idade: "Hoje vocês só usam este batonzinho. Quando tiverem 40 anos não vão sair de casa sem antes aplicar meio quilo de maquiagem no rosto." Toda vez que estou em frente ao espelho e com os pincéis na mão, lembro desta história.
A maquiagem deve ser usada a nosso favor, para destacar os pontos fortes e disfarçar as eventuais falhas. Deve ser leve o bastante para evitar aquela impressão de "meio quilo de maquiagem no rosto".
AB
Muitas pessoas dizem que o Rio de Janeiro é uma das cidades mais bonitas do mundo. Eu me incluo neste grupo. Tirando o problema de segurança (ou a falta dela), o Rio é um lugar maravilhoso para passear, se divertir, comer bem, fazer uma reciclagem cultural e umas comprinhas (se tiver tempo). E tudo isso num cenário de tirar o fôlego. A seguir vou indicar alguns pontos que você deve tentar incluir no seu roteiro carioca. Todos estes eu já testei. Sei que tem muitos outros dignos de sua visita, mas deixo a indicação para quem já foi lá. Clicando nos nomes em destaque, você vai ter mais informações úteis.
Pão de Açúcar e Cristo Redentor no Corcovado
São paradas obrigatórias para qualquer visitante em sua primeira vez no Rio. Estão para o Rio como a Torre Eiffel está para Paris, como o Coliseu para Roma, o Big Ben para Londres e a Estátua da Liberdade para Nova York. Todos são lugares beeeeem turísticos, mas que valem a visita. Se puder, escolha um dia com céu limpo para a visita e sua visão da Cidade Maravilhosa apagará qualquer sentimento de que "pagou mico".
Forte de Copacabana
Encravada entre os bairros de Copacabana e Ipanema, a instalação militar permite visitação pública e tem um excelente museu (agradou muitos meus filhos quando eram crianças). A foto acima tirei de lá, ao entardecer, com o Pão de Açúcar lá no fundo. Tem também uma filial da tradicional Confeitaria Colombo. A matriz fica no centro da cidade e certamente merece também uma visita. Seja por causa dos quitutes divinos ou pela decoração centenária.
Centro Cultural Banco do Brasil
Se você resolver fazer uma incursão pelo centro do Rio, não pode deixar de ir lá. Tem exposições permanentes e temporárias, além de teatro e cinema. O lugar é lindo e de fácil acesso.
Zazá Bistrô
Pequeno restaurante em Ipanema que tem uma cozinha artesanal com foco no alimento orgânico, misturando sabores do mundo todo. Não é dos mais caros e está sempre lotado. Faça reserva ou chegue cedo. Comi um braseado de polvo e lula muito bom, com o polvo muito macio.
Adega do Porto
Um típico restaurante português em pleno bairro do Jardim Botânico, inaugurado em 1982. O bolinho de bacalhau é bem honesto, com a presença indispensável do peixe no lugar da batata. Depois pedimos o polvo grelhado para duas pessoas, super macio e saboroso. Para arrematar, toucinho do céu.
Gula Gula
Rede carioca de restaurantes, começou com muitas opções de saladas e agora tem cardápio mais amplo para agradar a muitos paladares. E em muitos endereços. Sempre peço a salada de frango ao pesto, com fusilli. Experimente a quiche de queijo brie com damasco acompanhada de salada verde e não se arrependerá.
Casa do Alemão
Para mim tem gosto de infância, pois era parada obrigatória da família quando íamos ao sítio da vovó, no caminho de Petrópolis. Hoje a empresa cresceu e tem várias filiais, inclusive Leblon e Barra da Tijuca. O carro chefe da casa é o croquete, que pode ser de carne, frango ou bacalhau. Mas o rei é o de carne, com recheio macio, quase cremoso, e casquinha crocante. O sanduíche de linguiça também merece destaque, regado com mostarda escura ou clara. Tem um concorrente à altura, o Pavelka, no Leblon, onde você também vai saborear ótimos croquetes e sanduíches.
Mil Frutas
A sorveteria carioca faz misturas interessantes e sazonais. Da última vez que estive lá, pedi o sorvete de toucinho do céu. Mas o de canela também é ótimo. Vários endereços, com a matriz no bairro do Jardim Botânico e lojas no principais shoppings do Rio e SP.
Antiquarius
Renomado restaurante de cozinha portuguesa, lugar para comer muito bem, ver gente famosa e ter momentos agradáveis, com bolso recheado prestes a ficar vazio. Mas a alma agradece. O couvert já é um show. Já comi o arroz de bacalhau e o arroz de codornas, ambos para duas pessoas. As sobremesas você tem vontade de comer de joelhos. Uma viagem a Portugal sem cruzar o Atlântico, ali no Leblon. Tem também a versão grill na Barra da Tijuca.
Bar Urca
Super tradicional no bairro da Urca, com vista privilegiada da Baía da Guanabara, com ambiente descontraído. Fomos lá para comer bolinhos de bacalhau e pastéis de carne, com cerveja super gelada. Boa pedida para quando você descer do Pão de Açúcar, pois fica bem pertinho.
Venga
Bar de tapas, típicos pratos espanhóis em pequenas porções. Delícias que você deve provar. Começou em 2009 com um pequeno ponto no Leblon. Fez tanto sucesso que está agora em dois novos endereços no Rio, no Leblon e em Ipanema, e um em SP.
Bracarense
Típico exemplo do bar carioca, no Leblon. Boa comida, chopp gelado, muita gente conversando nas mesas espalhadas pela calçada. Programa bom para depois da Feira Hippie ou da praia.
Feira Hippie de Ipanema
Todo domingo tem programa divertido na Praça General Osório, em Ipanema. A feira deixou de ser hippie há décadas, mas o artesanato e as obras de arte expostos por lá tem que ser vistos. Dá para trazer presentes para a família toda! E com muita criatividade. Se você gosta de comida baiana, vai adorar as barracas das baianas nos quatro cantos da praça.
Boteco Belmonte
Outro exemplar do típico boteco carioca. Em vários endereços no Rio. E sempre com boa comida e chopp gelado.
Parque Lage, Jardim Botânico e Floresta da Tijuca
Três lugares imperdíveis para os amantes da natureza. Há trilhas para todos os gostos e preparos físicos. Mas se não quiser se embrenhar na mata, tem ótimos pontos para contemplação e descanso.
Momento compras:
Não deixe de ir ao Shopping Leblon. Tudo de bom tem por lá. Muito bons também os Rio Design, no Leblon e na Barra.
Loungerie
Toda mulher vai querer, comprar ou ganhar. Esta loja de lingerie tem variedade incrível, com preços bem acessíveis. Segue aquela fórmula de tirar suas medidas na hora e indicar o tamanho correto do soutien, de acordo com as costas e taças. No Leblon e no shopping Rio Sul. Tem também em SP.
Gostou das dicas? Tem muito mais, mas o texto vai ficar muito longo para você guardar.
Outro dia voltamos ao assunto.
AB
Felipe Pinheiro, meu saudoso amigo, costumava fazer uma brincadeira
que adoro repetir sobre a epidemia do “pra mim fazer”. Quando um “pra
mim andar” ou “pra mim comer” lhe feria os ouvidos, meu compadre franzia
as sobrancelhas e repetia, entre o irritado e o desesperado: “Mim não
faz nada! Mim não anda! Mim não come! Mim não faz coisa nenhuma!”.
Existem infindáveis “mins” realizando façanhas por aí, com o risco,
inclusive, de ser aceitos pela norma culta. Se os que defendem que a
linguagem já nasce com o homem estiverem corretos, e o neném berrar na
sala de parto seguindo a concordância, o “pra mim errar” deve ser um
defeito grave de fabricação.
Meu mim não age. É dos poucos orgulhos que eu tenho do meu português.
Tenho um conhecimento pífio de gramática, escrevo de ouvido, herança da
escola experimental. Passei anos com medo de desejar um bom-dia por
escrito ao João Ubaldo Ribeiro. “Será que tem hífen?”, eu pensava. Um
bloqueio assustador, como se estivesse prestando um exame. Só usava
frases curtas, quase bilhetes e, mesmo assim, no sufoco.
Recentemente, eu me correspondi com um conterrâneo do Ubaldo
igualmente culto e amante da última flor do Lácio. Fui bem, consegui
desenvolver um raciocínio aceitável, mas, lá no fim do último parágrafo
da caudalosa epístola, escrevi que “haviam incongruências”. As
incongruências não importam, já o haviam…
“No Brasil, usamos o verbo ter no lugar do haver. ‘Tem um buraco
enorme do lado esquerdo.’ Pois bem, mesmo que fossem dois (ou sete)
buracos, o verbo permaneceria no singular: ‘tem sete buracos enormes do
lado esquerdo’. Igual a ‘há sete buracos enormes do lado esquerdo’. Até
aí, tudo bem, ninguém erra se usar o verbo haver: ninguém diz ‘hão sete
buracos enormes’. Mas, se vai para o passado, neguinho fica com medo de
não fazer a concordância e flexiona o verbo: ‘haviam sete buracos’. O
certo é ‘havia sete buracos’. Nem ‘houveram sete assaltos’ (saí do
buraco porque não dá para fazer uma frase convincente com buracos e o
verbo no pretérito perfeito: houve, houveram; o imperfeito é havia,
haviam).
O certo é ‘houve sete assaltos’. Ou ‘teve sete assaltos’. Claro que
com o verbo ter você vai encontrar situações de flexão correta: ‘Os
bancos tiveram sete assaltos este mês’. Porque aí o sujeito da frase é
‘os bancos’. É como dizer ‘os bancos sofreram sete assaltos’. Mas dizer
que meramente houve assaltos não implica ‘assaltos’ ser o sujeito. Houve
o que houve, há o que há, havia o que havia; o verbo haver aí é
impessoal. O verbo ter, quando o substitui em casos iguais, também.”
Agradeci de joelhos a paciência e a aula, mas o lodaçal piorou. E
existe? Existem sete buracos? Ou existe sete buracos? Quem existe é o
buraco, então, deve ser existem. E os dias? “Hoje é 15 de setembro”? Ou
“são 15”? As horas eu sei que são. E faz? É impessoal ou não? “Fazem
quinze anos” ou “faz quinze anos”? É faz. A razão, segundo fui
informada, beira a filosofia: é porque o tempo é.
O pediatra do meu filho tinha 14 anos quando enfrentou uma sequência
de zeros distribuída democraticamente pelo professor belga de matemática
do Santo Inácio. O pai recorreu a aulas particulares com um conterrâneo
do mestre. O europeu mal-humorado explicou que só existem quatro
operações relevantes: soma, subtração, multiplicação e divisão, depois,
escreveu na lousa: 2+2, 2-2, 2×2 e 2:2 e pediu que o aluno resolvesse.
Quando o rapaz terminou, o professor aconselhou um reforço em português.
A dificuldade estava na leitura do enunciado dos problemas. Todas as
falhas de compreensão pertenciam à lógica.
Nesse quesito, português só perde para a física em matéria de dificuldade.
O pouco que fixei, hoje, só me serve para entregar a idade.
A última reforma ortográfica dizimou os acentos. O computador
conserta, mas eu redigito o agudo do “o” de “jóia” e “clarabóia”. Não
aguento “joia” e “claraboia”. Vôo, também, não tem mais circunflexo,
virou “voo”. E não se distingue mais “história” de “estória”, uma
sutileza que me agradava imenso.
Depois de tanta ignorância confessa, só não peço demissão por medo de redigir a carta.
Nota da AB:
Tive excelentes professores de português em toda minha vida escolar. Considero que aprendi direitinho. Mas como Fernanda Torres, ainda estranho muito a nova ortografia após a reforma. Desculpem aí qualquer errinho...
Tem certas coisas na indústria da moda que me fazem pensar no que eles pensam de nós, pobres consumidores. Tem coisa mais feia, mais cafona, mais deselegante do que os tais sneakers com salto embutido? Não costumo ter preconceito com objetos de moda, pois acho que ela deve ser democrática, ou seja, cada um escolhe o que quer, o que lhe faz bem, o que lhe cai bem. Mas isso aí é demais! Pode dizer que é confortável, que é estiloso (?), que pode ser usado em todas as idades etc. Mas é feio!
Marc Jacobs, R$ 1.720,00
Ou bem a pessoa usa um tênis ou bem a pessoa usa um salto. Na minha opinião são fatos que não se misturam. É como ir para a neve usando biquini. Não combina!
Ellus, R$ 360,00
Esse aí da Ellus é o menos ruim que achei, por que não evidencia tanto a existência do salto interno e lembra mais uma bota de cano curto.
Quis apenas expressar minha opinião sobre esta tendência tão evidenciada pelas convidadas nos salões de desfiles das Fashion Week, no RJ e SP. Mas volto a dizer, a moda é democrática e dá direito a todos de usar tudo. Mas tenhamos bom senso...
"Eu sou pequeno perto de Jobim", diz Henri Salvador ; confira entrevista
LENEIDE DUARTE-PLONColaboração para a Folha, em Paris 16/03/2007
Henri
Salvador, 89, foi anunciado neste ano em um especial de TV sobre um
século da canção francesa como o "inventor da bossa nova brasileira". No
palco, disse que sua música "Dans Mon Île" (Na Minha Ilha) "inspirou
Tom Jobim a criar a bossa nova" e cantou "Eu Sei que Vou te Amar", de
Tom e Vinicius, em versão francesa de Georges Moustaki. Ninguém informou
que a canção nem é francesa.
Meses atrás, o jornal "Le Monde"
questionava: "Henri Salvador foi, como ele diz, o inventor da bossa nova
com a canção 'Dans Mon Île'?". Num programa de rádio, atribuiu-se a
ele a criação da bossa nova. Não é de admirar que na Wikipédia
(enciclopédia virtual em que qualquer pessoa pode escrever) a informação
persista. Ainda que no condicional.
Seu amigo Moustaki, que traduziu "Águas de Março" para o francês, com Tom Jobim, diz à Folha: "Acho que Salvador acredita sinceramente nisso, mas não estou de acordo".
Ao lançar o disco "Révérence", gravado no Rio, Salvador recebe a Folha
em seu apartamento na Place Vendôme, em Paris. Estende a mão e pergunta
"Como vai você?" para mostrar que ainda fala a língua que aprendeu no
Brasil, em 1940. Mas dá a entrevista em francês, reclamando do cansaço
da batalha contra um vírus, que o levou ao hospital. O bom humor volta
ao falar do Brasil.
Salvador ri de maneira escancarada. Suas
gargalhadas ecoam no apartamento. Na entrevista, o velho "crooner"
fascinado por músicos brasileiros demonstra espanto ao saber que a
batida da bossa nova foi criada pelo violão de João Gilberto ("Verdade?
Não sabia.") e diz que é "exagero" chamá-lo de "inventor" do gênero.
Confira a seguir a íntegra da entrevista:
Folha - Por que você gravou o disco "Révérence" no Rio?
Henri Salvador
- Gravei no Brasil por causa de Morelembaum. Fui ver Caetano Veloso em
Paris, e Morelembaum tocava com ele. Quando ouvi os arranjos, disse a
mim mesmo: é esse cara que vai fazer meu próximo disco. Fui vê-lo depois
no "New Morning" em Paris e lhe pedi que fizesse os arranjos. Ele
disse, "Salvador, com muito prazer, eu conheço você". Para facilitar, eu
lhe disse que eu poderia ir gravar no Brasil, assim ele poderia
trabalhar em português com os músicos. Ele ficou encantado. Os músicos
eram do grupo de Jobim.
Folha - Em que você pensou quando escolheu o título?
Henri Salvador- É a última vez que vou me apresentar em público no palco. Sou um velho. Então, faço a reverência e saio.
Folha - Você começou uma turnê que vai incluir show em Monte Carlo, onde festeja seus 90 anos. Aposentadoria nem pensar?
Henri Salvador
- Faço primeiro Monte Carlo, depois a Salle Pleyel e depois o Palais
des Congrès. Termino a minha despedida na Ópera de Paris. Detesto a
palavra aposentadoria, "retraite" em francês, que quer dizer se retirar.
É uma abdicação.
Folha - Então você não se aposenta completamente.
Henri Salvador
- Não deixo de gravar meus discos, mas paro de me apresentar ao vivo
porque é cansativo e não quero dar a imagem de um velho no palco. Será a
última vez que vão me ver no palco. Sou um homem idoso.
Folha - Que compositores brasileiros você canta no disco?
Henri Salvador
- Há apenas uma canção de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes,
"Eu Sei que Vou te Amar", na versão de Georges Moustaki. As outras são
minhas.
Folha - Você disse à imprensa brasileira: "O
Brasil está ligado à minha vida e tem a melhor música do mundo". Qual
sua relação com a música brasileira?
Henri Salvador
- Para mim, é a melhor música não somente porque tem muitos talentos
mas porque eles são vanguardistas, se arriscam musicalmente e
harmonicamente. Jobim foi muito, muito longe e a maior parte dos
compositores são surpreendentes, fazem grandes achados musicais. O
maior, porque é o maior, eu o chamo de Deus, é Jobim. Ele é sempre
surpreendente. É pura pesquisa musical.
Folha - Qual a importância que a música brasileira teve em sua carreira?
Henri Salvador - Foi muito importante. Para compor, por exemplo. Componho mais facilmente no ritmo da bossa nova, ele inspira melodias.
Folha - E qual a importância do jazz na sua vida?
Henri Salvador
- O jazz foi importante no início. Eu admirava os grandes como Count
Basie e Duke Ellington. Havia um compositor americano que eu adorava,
Cole Porter. Para mim, era um melodista maravilhoso. O jazz foi muito
importante no início, depois mergulhei na música brasileira, que é
inovadora. No Brasil, há sempre alguém que chega e faz coisas novas. É
um país muito rico. E existem músicos que se aproximam de Chopin. Tem um
pianista que me deixou abismado num disco.
Folha - Quem é?
Henri Salvador - Não lembro o nome dele.
Folha - Que cantores marcaram seu estilo, suas interpretações?
Henri Salvador
- Minhas composições são uma mistura de tudo, de jazz, de bossa nova e
da canção francesa também. Meu ídolo no "music hall" era Maurice
Chevalier. Ele pegava uma canção sem importância e fazia uma obra-prima.
Tecnicamente, eu me inspirei em Frank Sinatra e Nat King Cole para a
respiração, a dicção e a escolha das canções. Eles estavam na vanguarda.
Foram os melhores cantores dos melhores compositores, com as melhores
orquestras. Sinatra dizia que, quando se canta, é melhor cantar uma
canção boa que uma ruim; uma canção ruim é ruim para toda a eternidade.
Folha
- No especial de televisão para lembrar cem anos de canção francesa,
você só cantou uma música, e foi "Eu Sei que Vou te Amar", de Tom Jobim e
Vinicius de Moraes, em versão de Georges Moustaki. Por que você
escolheu esta canção num especial sobre a canção francesa?
Henri Salvador
- Foi uma feliz coincidência. Quando eu fui ao Brasil, descobri essa
canção, que eu não conhecia. Perguntei a Moustaki e ele me disse que ela
é um enorme sucesso no Brasil. É uma bela composição que tem uma
lógica musical muito linda.
Folha - E foi você quem a escolheu para a festa da canção francesa?
Henri Salvador
- Sim. Eu escutei um disco de Jobim maravilhoso, super de vanguarda,
com uma grande orquestra, quase sinfônico, formidável. Mas eu não sabia
que ele tinha ido tão longe. Era realmente um maravilhoso compositor,
lamento não tê-lo conhecido. Eu moro perto do Olympia e eles vieram
aqui, Jobim, Vinicius e um grupo. E eu não pude ir.
Folha - Você não conheceu Tom nem Vinicius?
Henri Salvador - Não.
Folha - Mas você conhece João Gilberto?
Henri Salvador - Sim, fui vê-lo em Paris.
Folha - Você conhece também Caetano Veloso, que canta "Dans Mon Île" sempre que vem a Paris.
Henri Salvador - Sim, foi ele quem quis a canção "Eu Sei que Vou te Amar" no meu novo disco.
Folha
- Numa longa matéria sobre a bossa nova, "Bossa nova, une passion
française", o "Le Monde" escreveu: "Henri Salvador foi, como ele diz, o
inventor da bossa nova com sua canção 'Dans Mon Île'? Tom Jobim teria
tido a idéia de desacelerar o 'tempo' do samba depois de ter visto o
filme italiano para o qual foi composto este bolero". O que você pensa
dessa história e como você explica a batida da guitarra de João Gilberto
e a harmonia ultra-sofisticada da bossa-nova, que Tom Jobim atribuía a
uma mistura do samba-canção com o jazz?
Henri Salvador
- Foi um grande músico brasileiro, cujo nome não lembro, quem me disse:
"Você sabe que você está na origem da bossa nova?" Eu disse: "Não é
possível". Ele me disse: "O Tom Jobim ouviu sua música 'Dans Mon Île'
num filme italiano e disse: "É isso que tenho que fazer, desacelerar o
tempo do samba".
Folha - Não seria um exagero dizer que você é o "inventor" da bossa nova?
Henri Salvador - Não sou o inventor. Foi Jobim quem inventou a bossa nova.
Folha
- No início, foi João Gilberto quem inventou a batida do violão e uma
nova maneira de cantar que foi batizada de bossa nova. Ele gravou um
disco com Elizeth Cardoso e Tom Jobim, no qual tocava violão em duas
faixas, de maneira totalmente nova.
Henri Salvador - Verdade? Não sabia.
Folha - A imprensa francesa repete muito essa história que atribui a você a invenção da bossa nova. Isso o incomoda?
Henri Salvador
- Eles estão errados. Não posso me atribuir esse fato, não fui eu. Não
gosto que digam que sou o inventor da bossa nova. Não sou capaz, sou
apenas um pequeno compositor comparado a Jobim. É um exagero, sou um
pequeno melodista da canção francesa. Jobim é um gigante. Fiquei
contente quando fui ao Brasil no ano passado, ao ver que o aeroporto do
Rio se chama Jobim. Nunca isso aconteceria na França... Mas tive um
choque ao ouvir um saxofonista que tocava mas era uma ... merda. O
aeroporto se chama Jobim e não se põe alguém que saiba tocar bem para
executar as belas músicas de Jobim. Isso me deixou triste.
Folha - Você vai fazer uma turnê no Brasil para promover o disco?
Henri Salvador
- Vamos fazer. Morelembaum quer que eu faça com ele. Mas sou uma coisa
velha. Mas o público brasileiro é muito caloroso. Preciso preparar
algumas frases em português engraçadas.
Folha - Você foi
ao Brasil pela primeira vez em 1940 para cantar com a orquestra de Ray
Ventura. Quais suas lembranças dessa época?
Henri Salvador
- Eu andei por todo lado, Minas Gerais, Salvador. Cantei no Cassino da
Urca, no Quitandinha, em Niterói. Mas o que me agrada no Brasil... É
tudo. Os brasileiros são calorosos, recebem bem e amam o francês. Eles
adoram a França, isso me surpreendeu. Todo mundo fazia um esforço para
dizer algumas palavras em francês. Eu me dou bem com o Brasil porque sou
da Guyana e por isso me sinto muito próximo. Há muito calor humano.
Vejam também "Eu sei que vou te amar" com Henri Salvador.
Atualização: foi lançado um disco póstumo agora em junho/2012, na França.
A combinação é tentadora: doce elaborado com claras de ovos, farinha de amêndoas e açúcar, com recheio
cremoso de ganache de chocolate ou frutas. Abrasileirando a definição, podemos dizer que são pequenos suspiros redondos com 3 a 5 cm de diâmetro, com uma casquinha crocante e interior macio. O resultado é um dos doces
franceses mais apreciados do mundo: o macaron, que ganhou notoriedade,
ainda no século XVI, graças à divulgação da Rainha Catherine de Medicis. Eles podem ser servidos nos chás da tarde, coffee breaks, lembrancinha de recém nascido, em coquetéis acompanhando espumante gelado, como sobremesas ou até mesmo nos casamentos, substituindo os "bem casados".
Houve uma grande divulgação global do doce quando a cineasta Sofia Coppola o incluiu em cena no filme Maria Antonieta (Marie Antoinette, 2006). O mundo então teve curiosidade por aquele pequeno disco recheado.
Em Paris, a Maison Ladurée da Avenida Champs Elysées tem fila na porta. Mas vale a pena esperar alguns minutos para comprar e degustar os mais famosos macarons. Há vários outros grandes chefs de patisserie na capital francesa, mas só posso falar do que eu provei.
Na próxima vez, pretendo provar as delícias de Pierre Hermé.
Mas você não precisa ir a Paris para provar do doce. No Brasil há vários bons representantes da classe.
No Rio de Janeiro, um chef francês abriu recentemente a pequena loja Paradis no coração de Copacabana. E cumpre bem o papel de divulgar o doce para os cariocas. Estive lá e pude comprovar. A textura e o sabor são divinos. Além do extremo bom gosto da decoração da loja. E você ainda pode acompanhar seu macaron com uma bela xícara de Nespresso. Vai lá: Paradis.
Mas São Paulo também tem macaron honesto no Le Vin (vários endereços em SP, Rio e Brasília).
Em Natal, não estamos desamparados! A simpática chef potiguar Socorro, com curso em Lausanne, na Suiça, faz um ótimo macaron, com excelente sabor e crocância externa (foto acima). Ainda não provei as outras sobremesas que Socorro faz, mas estou com água na boca para testar a bûche, um rocambole tradicionalmente servido na época de Natal na França. Entre em contato com Socorro, ela só trabalha sob encomenda: (84) 9914-4031 ou (84) 3223-1726.
ATUALIZAÇÃO EM 28/06/2012:
A Ladurée acaba de abrir sua primeira loja no Brasil, mais precisamente em São Paulo, no novíssimo shopping JK Iguatemi.
A dica de hoje é sobre um filme que todo mundo deveria assistir. Principalmente quem tem filhos. Educação (título original: An education), de 2009, nos mostra a história de Jenny Carey (Carey Mulligan), que tem 16 anos e vive com a família no
subúrbio londrino em 1961. Inteligente e bela, sofre com o tédio de seus
dias de adolescente e aguarda impacientemente a chegada da vida adulta.
Seus pais alimentam o sonho de que ela vá estudar em Oxford, mas a moça
se vê atraída por um outro tipo de vida. Quando conhece David (Peter
Sarsgaard), homem charmoso e cosmopolita de trinta e poucos anos, vê um
mundo novo se abrir diante de si. Ele a leva a concertos de música
clássica, a leilões de arte, e a faz descobrir o glamour da noite,
deixando-a em um dilema entre a educação formal e o aprendizado da vida.
Adoro filme de época, mesmo que recente. O elenco é impecável. A lição é a melhor possível e super atual em tempos de internet para amizades virtuais. Dá uma olhada no trailer:
Gostaria de acrescentar mais umas linhas sobre o assunto anterior. Deixei claro que gosto do hop on hop off para conhecer as grandes cidades. Mas acho que faltou eu dar alguns exemplos para quem ainda não se aventurou nesta modalidade de transporte turístico.
O primeiro lugar onde usei o hop on hop off foi em Barcelona, Espanha. Nunca fui fã de city tour. Costumamos (eu e meu marido) viajar por conta própria, sem roteiro fixo, sem grupo, sem guia, sem excursão. Para nós, o hop on hop off oferece a possibilidade de "dar uma geral" na cidade com a liberdade de horário.
Uma vez comprado o ticket, que pode ser válido por um, dois ou até três dias, você pode saltar no lugar que quiser, ficar o tempo que quiser, fazer
as fotos que quiser e depois retoma o trajeto no próximo ônibus (eles
passam em intervalos médios de 30 minutos). Muito mais prático do que usar ônibus e/ou metrô e mais barato que usar taxi.
A foto acima é do hop on hop off de Nova York, para onde fui com meus dois filhos há alguns anos. Ou seja, eles estavam naquele estágio entre criança e adolescente. Não era a minha primeira vez, mas era a deles, tanto em NYC quanto no ônibus. Nova York no inverno fica inviável de se percorrer somente a pé. E com dois meninos então! Funcionou muito bem! Percorremos várias ruas da big apple em ambiente quentinho. Saltamos em alguns lugares e voltamos para seguir o trajeto. Terminamos quando já era noite. Como o ticket valia por 24 horas, na manhã seguinte usamos o serviço para chegar ao Museu de História Natural, no qual passamos o dia.
A mesma coisa em Washington DC. Inverno, dois meninos... Enfim, hop on hop off neles! E o de lá parece um bondinho antigo, mas climatizado (importante!).
Infelizmente este serviço não está disponível em muitas cidades brasileiras. Quando pesquisei, só achei em Salvador e Curitiba. Seria perfeito no Rio de Janeiro, onde há grandes distâncias entre os pontos turísticos.
Se você tiver um mínimo de conhecimento de inglês, alguma desenvoltura com mapas e guias de bolso, zero de preguiça e bastante vontade de se divertir, considere embarcar em um hop on hop off em sua próxima viagem ao exterior.
Como vocês já perceberam, viajar é um assunto que muito me interessa. Por isso, tomei a liberdade de reproduzir abaixo o texto de Ricardo Freire (16 fevereiro, 2011).
"Quem me conhece sabe da minha implicância com city-tour. Sim, eu sei
que é prático. Sim, eu sei que rentabiliza o tempo. Sim, eu sei que o tour pode servir como uma ótima introdução à city, permitindo que você se localize mais rápido e possa voltar com calma aos lugares que mais chamaram a sua atenção.
Na vida real, porém, o city-tour tende a reduzir a experiência do
visitante a um slide show em 3D — com a janela do ônibus fazendo o papel
de monitor. Tá bom, tá bom. Vou tentar não ser tão radical. Há
city-tours e city-tours, turistas e turistas. City-tour convencional
Você e seu grupo sobem num ônibus, que faz algumas paradas durante
uma manhã ou uma tarde. O modelo é bastante limitado. Como todo o grupo
sobe e desce em todas as paradas — o que toma tempo — as escalas
costumam ser poucas e espaçadas entre si. Esse tipo de passeio já entrou
em desuso, e hoje resiste sobretudo para cumprir tabela como uma cenourinha
a mais na composição de um pacote (7 noites, café da manhã, traslado e
city-tour). Costuma servir também (para a operadora de receptivo) como
uma oportunidade de venda de outros passeios — esses, normalmente,
melhores.
(A propósito: não vamos confundir todo passeio de ônibus em grupo com
city-tour em grupo. Existem bons passeios de ônibus em grupo que vão
direto ao que interessa e servem muito bem a quem tem pouco tempo ou
disposição para perrengues. A minha crítica é aos roteiros dentro das
cidades, que não têm como não ser over-simplificados.) Ônibus hop-on/hop-off
Desculpem o palavrão — mas ainda não foi cunhada uma tradução
brazuca, e muitos de vocês já estão usando o termo com uma naturalidade
espantosa
Para quem nunca ouviu falar, os roponropofes nada mais são do que
aqueles ônibus panorâmicos, geralmente de dois andares (em algumas
cidades, com o andar de cima aberto), que percorrem todo o circuito de
atrações turísticas, passando em intervalos determinados.
O esquema é bastante superior ao city-tour tradicional, porque você
pode descer onde quiser, ficando o tempo que precisar. O bilhete vale o
dia inteiro — e costuma haver tickets válidos para dois ou três dias. O
roteiro é narrado por meio de fones de ouvido em diversos idiomas. E o
deck aberto é um lugar sensacional para fotografar a cidade.
A maioria das cidades muito visitadas oferece o serviço: Londres, Nova York, Paris, Barcelona (o de Madri não está operando mais), Lisboa, Buenos Aires, Berlim, Budapeste, Santiago…
Mesmo com todas essas qualidades, o modelo não me entusiasma. Entendo perfeitamente quem curte, mas eu só recorro aos ropons em lugares onde pegar o transporte público vai trazer mais perrengue do que descobertas. Usei o esquema em Curitiba e em Dubai — e curti. Ainda quero experimentar o de Salvador. (O do Rio, que existiu no finalzinho da década de 90, era bárbaro — mas não deu certo.) Duck Tours
Uma variante engraçada do city-tour: usa veículos militares anfíbios
adaptados para o turismo, combinando sightseeing terrestre com um
passeio pelo rio, lago ou canal que banhe a cidade. É oferecido em
lugares como Nova York, Boston, Londres e Cingapura. Não substitui o circuito ortodoxo, mas vale como uma sessão de parque de diversões. Por conta própria
Em toda cidade que oferecer transporte público fácil e civilizado, esta é a minha recomendação. Por quê?
Porque o city-tour organizado — seja ele convencional, seja
hop-on/hop-off — não tira você da redoma. Atrações turísticas, em sua
maior parte, são apenas isso: lugares que atraem turistas. São pontos de
peregrinação. Atraem à sua volta todo comércio artificial voltado para
os forasteiros. Lojas de souvenir. Restaurantes com menus ao gosto dos
visitantes. Cafés over-careiros.
Costumo dizer que as atrações turísticas (e nessa incluo muitos
museus) devem ser tomados como indicações de percurso. A viagem na
verdade acontece entre um lugar e o próximo. É nesse caminho que você
vai ser apresentado à cidade de verdade, vão acontecer as coisas mais
memoráveis, a história particular da sua visita vai acontecer. É chato
voltar para casa apenas com as gafes dos outros colegas turistas para
contar.
Sempre que possível, vá com as suas próprias pernas: garanto que é mais colorido. Tours alternativos
Para quem gosta de visitas guiadas, vale muito a pena pesquisar tours
alternativos ao city-tourzão padrão. Há a barreira da língua, mas mesmo
perdendo parte da explicação você acaba andando por cantos que talvez
não percorresse, e conhecendo pessoas potencialmente mais interessantes
do que as do deck do ropon. Caminhadas guiadas normalmente rendem
passeios excelentes — no mínimo, você vai acabar parando em frente a
lugares que poderiam passar despercebidos. Uma grande fonte para
passeios não-caretas são as recepções dos albergues/hostels. Dê uma
espiada mesmo se você não estiver hospedado."
Nota da AB: eu sou adepta do hop on hop off. Já utilizei em várias cidades. Gosto da liberdade que o serviço proporciona. Temos que levar em conta também a relação custo x benefício. Se você optar por percorrer os principais pontos turísticos por conta própria, de taxi, metrô ou ônibus, poderá gastar mais, se estressar e perder tempo (muito precioso se você só tiver poucos dias em cada destino).